quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Eu e o santo

Eu e o Santo

Vou contar uma história antiga, da minha adolescência, nem tão antiga,  que me veio à mente. No mês de junho são  comemorados dias de vários santos. São João, São Pedro, Santo Antônio, esse, o personagem principal dessa  história.

Fui criada dentro dos preceitos da religião católica e por isso cresci ouvindo falar dos santos  seus talentos e  funções.  Cada um resolvendo problemas de suas áreas específicas. Como os médicos em suas especializações. O fato é que tem santo pra tudo. Santo das causas impossíveis, das causas perdidas, dos endividados e até dos encalhados. Esse, coitado, não anda dando conta de tanto pedido. É mulher desesperada pra todo lado. Todas querem encontrar um homem que seja bom, honesto, trabalhador, homem! Bonito nem precisa ser. Até porque aí já é exigir demais do santo. Se “funcionar” direitinho tá ótimo, porque ultimamente ta difícil viu!  

O fato é que Santo Antônio foi o meu escolhido por suas habilidades em juntar pessoas. Tudo bem que uma vez comprei uma imagem de santo Expedito achando que era Santo Antônio, o sujeito que me vendeu , percebendo o desespero imaginou que eu não ia mesmo notar a diferença. Só descobri depois de muitos dias fazendo novena e acendendo vela pra santo errado. Mal não fez mas, atrasou bastante minha encomenda.  Antes tivesse extraviado, igual mala em aeroporto , daquelas que a pessoa perde pra sempre. Ai que inveja!

Uma vez, resolvi acender uma vela para o santo escondido da minha mãe que vivia brigando porque eu queimava todas as velas e quando faltava luz, ficava todo mundo no escuro. Pensei em todas as possibilidades e acabei optando por acender a vela atrás da cortina do meu quarto. Não precisou mais que um ventinho para cortina voar e voltar roçando a vela. Eu acendi a vela e sai pra fazer outras coisas. Só me dei conta quando comecei a sentir o cheiro de tecido queimado. Não sobrou nada, só o trilho. Desnecessário dizer que quase fui expulsa de casa  pela minha mãe e fiquei vários dias ouvindo ela contar a história pra todo mundo e aproveitar pra me xingar mais.

O fato é que, como toda mocinha romântica, vivia pedindo ao santo um amor sincero e pra vida toda. Ser feliz para sempre. Quanta ingenuidade!  Acho que o santo não entendeu bem o meu pedido, só entendeu o para sempre  e me colocou numa fria. A partir daí cortei relações com ele e disse que só retomaríamos nossa amizade quando ele desfizesse a merda que fez. Foram 16 anos, penso que ele não fazia muita questão da nossa amizade. Tudo bem que teve uma época, quando a coisa ficava pior, como se fosse possível, eu dormia abraçada à imagem dele que tinha no meu criado. Chorava e conversava a noite toda. Assim, não aguentando mais o meu “apego “  ele, resolveu me ajudar e, com muito custo e desespero meu, desfez o mau feito.

Depois dessa longa temporada de brigas e discussões, estamos bem. Prometi a ele que enquanto me mantiver a salvo de uma nova cilada todo ano no seu dia, comemorado em 13 de junho, faço um caldeirão de canjica e distribuo  onde estiver, geralmente no trabalho,  divulgando que é em sua homenagem. As moças se fartam de tanto comer. Os homens, alguns descrentes, comem sem vacilar. Outros mais prevenidos ou traumatizados, preferem não dar moleza para o azar. É sempre uma grande festa. Continuo cumprindo minha parte no trato.

Ah! Esqueci. Também rezo um terço para reforçar a promessa. Vai que...