segunda-feira, 21 de novembro de 2011

HIPOCONDRIA


HIPOCONDRIA

Ontem minha irmã me ligou pra botar a conversa em dia, tinha pelo menos um mês que a gente não se falava. Aí ela me perguntou “e a mão melhorou”? Hã?
Não me lembro mais quando foi que minha mão deu defeito, sei que depois disso já torci o pé, tive que usar muletas que me causaram uma entorse no ombro esquerdo e que de tanto ser poupado acabou sobrecarregando o ombro direito no qual acabei tendo uma tendinite. É assim a vida de qualquer hipocondríaco que se preze. Cada dia é uma coisa, eu já tenho até vergonha de reclamar. Quando alguém me vê com cara de coitada e pergunta, você está sentindo alguma coisa, eu digo: não é “veiêra”-coisas da idade avançada.

Essa epopeia eu chamo de dor itinerante, ainda bem que cada dia ela tá num lugar. E também devo confessar que me sinto até um pouco aliviada, dizem que depois dos 40 se a gente acordar e não sentir nenhuma dor é porque tá morto. Eu sei que tem toda uma questão psicológica nessas “doenças”, tanto sei que passei minha vida inteira tentando não ser igual à minha mãe que é ”doente” desde que eu me entendo por gente.

Nos últimos 4 meses devo ter ido ao médico umas 8 vezes, 3 consultas normais e  5 PA’s (Pronto Atendimento). Primeiro foi uma infecção de garganta que virou uma sinusite e depois uma amigdalite e por fim uma alergia. Isso: alergia! Quando consegui marcar com o otorrino com o qual estou acostumada, pensei: agora ele vai fazer o exame e vai perceber o quanto o problema é sério. “Olha, seu exame está ótimo, nada que um bom antialérgico e um spray nasal não resolvam”. Saí Dalí já decidida a marcar um outro médico da minha confiança, aquele já não me servia mais.

Com sorte, marquei o outro médico  para quase um mês depois, porque agora é assim, tá pior que SUS.Os sintomas continuavam e eu sabendo de casos de Linfoma não Hodgkin e que as pessoas começaram com os mesmos sintomas . Eu tinha certeza que tava com câncer. Meu Deus nem precisava ser médico pra descobrir, eu sentia a mesma coisa que as pessoas que tinham sido diagnosticadas. Aí a cabeça começa a trabalhar: será que vou ter que fazer cirurgia, quimioterapia, radioterapia, já me imaginava careca usando perucas e turbantes, e se eu morrer?  Não, tô muito nova. Não vai ser nada, é coisa da minha cabeça doente, doente, doente, doente.

Sofrendo crises de ansiedade esperei o dia da consulta. Era o dia da verdade, o diagnóstico seria preciso. Quando entrei no consultório do médico desfiei um rosários de reclamações, disse que estava doente há 4 meses, falei dos sintomas todos, da falta de um medicamento que resolvesse. Ele me mandou deitar na maca e começou aquele exame básico, mediu a pressão, essa nunca me preocupou é ótima.Pelo menos alguma coisa tem que funcionar bem, acho que é a única! Quando começou a auscultar meu pulmão, respira, inspira, respira, inspira. Você tem sentido dor nas costas? Sabia, ele tinha achado alguma coisa, devia ser um tumor. Respondi que às vezes e ele, “é mas o pulmão tá limpinho”. Merda, que alívio!

Pode vestir a blusa e sentar na cadeira. Ele lá fazendo mil anotações, cara séria, pensei, agora vai dar o diagnóstico, deve ser outra doença grave que eu nem imaginava.”Olha, seu exame está ótimo”. Vou te passar um outro antialérgico que deve ajudar. No mais é você diminuir o ritmo de trabalho, procurar fazer as coisas que gosta, viajar, etc.etc.etc. Tudo que eu nem a maioria dos pobres mortais pode fazer. Saí de lá ARRASADA, REVOLTADA. Mais uma decepção com outro  médico em quem eu confiava tanto. Decidi não voltar mais lá. Ah! E ele só me passou um pedido de exames de sangue porque eu insisti muito.

Agora tô mais tranquila, acho que  no momento não estou com nenhuma doença grave. O negócio é continuar tomando meus remedinhos controlados para mulheres descontroladas. Tomando um analgésico aqui, um antiácido ali. Vendo o que tem de novo na indústria farmacêutica. Experimentando e trocando ideias com meus amigos que me e entendem do assunto como eu.

É importante lembrar que existem vários tipos de hipocondria. Cada um sabe do seu. Podem  me chamar de hipocondríaca e eu assumo que sou mas quando alguém precisa vem logo me perguntando, você tem um remedinho pra dor de cabeça aí?  Eu saco logo a minha “Farmapocket”, farmácia de bolso, e ofereço pelo menos três tipos de analgésicos. Que a vigilância sanitária não me ouça.

Esses foram só os episódios mais  recentes porque tenho muita história pra contar. Umas até engraçadas, pelo menos agora eu acho graça. Quem já leu a Síncope, que também está nesse blog, sabe o que pode esperar.. A próxima que vou contar é sobre a panela de pressão que explodiu e me queimou toda. Graças a Deus a história teve final feliz, ou eu não estaria aqui contando a história.