segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Doer dói mas...parte 2

Doer dói,mas....parte 2
Não pretendia falar mais sobre esse assunto, pelo menos enquanto não chegam mais novidades no mercado mas as circunstâncias me inspiraram e eu tenho que relatar. Até por uma questão de lealdade às minhas amigas e fiéis leitoras, usuárias e possíveis, das substâncias (parece que estou falando de droga, se bem que, não deixa de ser). A boa e já minha velha (no caso, ela) conhecida Toxina Botulímica, o Botox, com a qual já tenho uma relação de quase ou total dependência.
 Lá fui eu feliz e animada para mais uma sessão de pequenas picadinhas de uma mínima agulhinha que causa só uma dorzinha. Pelo menos até antes desta última aplicação. Talvez por uma questão de intuição botulímica, ato falho, feminina, resolvi passar aquela pomadinha da qual já falei e que, eu pensava , agora tenho certeza, só tem efeito psicológico, se é que tem algum.
Hora marcada, consultório tranquilo, é porque consultório de médico que cuida destas questões de sobrevivência é muito organizado. O horário é respeitado, dificilmente a gente encontra mais de uma ou duas pessoas saindo ou esperando para ser atendida. Acho que é para não impressionar porque já vi umas colegas saindo bem amarrotadas. Tudo bem que a gente sabe que depois vai ficar melhor mas deve ser pra não causar impacto. 
Bom, vamos ao fato. Entrei no consultório, fui recebida pelo simpático médico como sempre, com beijinhos e conversa amena. A anamnese, aquelas perguntas que o médico faz pra tentar identificar o problema, nesse caso são bem diferentes, até porque o problema está na cara, literalmente.
Fomos ao procedimento que é feito em uma cadeira, tipo de dentista, a diferença é que na do dentista  a gente senta e ela deita, na do médico a gente deita e ela sobe, só as pernas. Seringa pronta com o produto, desinfecção do local com álcool, tudo muito profissional. Eu tranquila por já saber como tudo funciona, eis que surge a novidade. “Faz cara de quem tá cheirando”, ridículo mas,fiz. “Você está com a Marquinha do Coelho”!  Hã?  Marquinha do Coelho, rapidamente tive um flash e me lembrei do “Arco do Cupido”. Pensei, lá vem bomba! Explicação: a Marca do Coelho é aquela ruguinha que aparece no nariz, bem próximo aos olhos, quando a gente cheira algo. Quem ainda não tem não se preocupe, um dia vai ter. Faça o teste na frente do espelho. Esse teste não é recomendado para pessoas impressionáveis ou neuróticas como eu.
Aí vem a parte dolorosa, dolorida, sofrida. “Vamos dar uma picadinha de cada lado e vai ficar ótimo”! Imaginem uma injeção no nariz! Pior, na parte mais fina, parece que só tem osso. Pensei que a agulha fosse atravessar de um lado para o outro. Acho que só não aconteceu porque a agulha é bem pequena,1 centímetro mais ou menos, e meu nariz é um “pouquinho largo”, graças à herança genética de uma avó negra. Resultado: saí do consultório com a sensação de estar com um nariz de palhaço, vermelho e redondo. Mas aí, veio o pensamento que me motiva e consola: amanhã vou estar linda! E, claro, pensei: a partir de agora vou prestar mais atenção antes de sair por aí cheirando qualquer coisa.

Doer dói mas...

Doer dói mas...
Teve um tempo que no popular se dizia: de graça, até injeção na testa. Bons tempos aqueles porque hoje uma injeção na testa, bem aplicada, custa no mínimo  R$300,00. Claro que não é qualquer injeção, dentro dela  vai um produto chamado Toxina Botulímica, mais conhecido como BOTOX (injusto não dar um destaque a esse que, literalmente nos salta aos olhos). Alegria da mulherada de 30, 40, 50  e, de muito marmanjo também. Quase ninguém assume que fez! Para estes procedimentos já existem outras variações de produtos e locais. Em volta  dos olhos, na testa e no famoso “Bigodinho Chinês”. Aquele vinco que vai se formando ao redor da boca e deixa a gente com cara de boneco de ventríloquo. Neste local, o produto deve ser outro. Em função de uma maior movimentação pra mastigar, pra falar, pra sorrir, beijar e outras gostosuras da vida, deve ser aplicado o “Ácido Hialurónico”, este, bem mais caro, por baixo uns R$700,00 porém, de  efeito prolongado.  Todos estes recursos e outros mais nos fazem um bem danado. É como se estivéssemos enganando o tempo e, principalmente as pessoas. Tudo por uma carinha mais esticadinha com pele de menininha. Quem não quiser enfraquecer a amizade  não questione quando aquela sua amiga que nasceu um ano antes de você  disser que, inacreditavelmente,  está com 38 anos  e você  com os seu honestos 40 e poucos. Também não precisa ser tão honesta! Depois de toda essa apologia às substâncias e procedimentos rejuvenescedores é preciso uma boa dose de realismo. Falando assim parece bem simples, e é.  Simples porém, DOLOROSO! Pensa na maior dor que você já sentiu na vida e multiplique por quantas vezes  a sua memória suportar. É isso, mesmo com pomadinha anestésica de efeito muito mais psicológico que físico, a dor é do mal. Conforme a agulha vai entrando você vai se contorcendo, se esticando, perdendo a compostura e qualquer traço de dignidade que restar.  Numa dessas minhas incursões ao mundo da busca pela eterna juventude o médico falou que ia aproveitar a sobra da minha ampola, ela fica guardada na geladeira com o nome da gente e tudo. Parece coisa da medicina moderna tipo banco de sémen, banco de óvulo, banco de embrião, nesse caso nem sei banco de quê. O fato é que o doutor resolveu aplicar a sobra no lugar que ele chamou de “Arco do Cupido” (aquela curvinha que tem acima do lábio superior). Esse doeu mais que todos os outros que já experimentei. Não sei se a memória tá curta mas, não me lembro de uma dor tão, sei lá, tão doída.. Aí falei com ele, isso não é o Arco do Cupido, é o “Arco da Capeta”, porque vai doer assim lá no meio do inferno!
Bom,dizer que não dói, mentira. Doer dói mas, vale pelo  sorriso que fica estampado no rosto da gente, ele é constante, compensa a dor. É um sorriso permanente sabe, um sorriso fixo. Não de alegria, porque ninguém consegue ficar alegre o tempo todo.  Um sorriso que só se desfaz quando o  Botox vai acabando  e aí é hora de começar tudo de novo.  Doer dói mas...

Injeção na bunda dói mais!

Na bunda dói mais!
 
Acho que devia ter uns 4 ou 5 anos a última vez que tomei  injeção na bunda. Que sensação horrível meu Deus!  Hoje eu revivi essa experiência traumatizante que achava ser coisa de criança. Primeiro devo esclarecer que não foi nenhuma escolha masoquista. Tinha que tomar três vacinas com uma certa urgência, o  que proporcionou a narrativa desse episódio nada romântico.
 
Na clínica, depois de passar por uns quatro lugares diferentes antes de chegar onde deveria, sentei e fiquei aguardando chamarem o número da minha senha. Em frente ao local onde eu aguardava era a sala da  vacinação infantil. Um pouco tensa, apesar de não ter nenhum problema com agulhas. Quem leu a última crônica sabe do que estou falando. Era criança chorando de todo  jeito. Chorinho de bebê, chorinho de criança, choro de menino grande, gritos, urros e pedidos de socorro, além daqueles que esperneavam tentando fugir. Que coisa irritante! Será que neles dói mais que na gente?
 
A mocinha me chamou, número 38, e sorridente me perguntou qual vacina eu tomaria. Quando expliquei  que eram três porque eu havia perdido meu cartão, ela  puxou minha orelha e disse: “não faça isso de novo, veja se não perde esse porque não é bom ficar acumulando vacinas” apesar da curiosidade em saber quais seriam os efeitos colaterais, conhecendo bem a hipocondríaca que habita meu ser, preferi não perguntar.
 
Me senti como uma criança sendo repreendida e, foi nesse momento que ela ressurgiu, a minha criança. A moça abriu a geladeira e foi pegando as vacinas uma a uma. “Essa no braço esquerdo, essa no braço direito e essa no glúteo”. No glúteo. Glúteo? Na bunda? Perguntei desnecessariamente.  Nesse momento me veio à memória aquela sensação conhecida do algodão geladinho molhado no álcool, da agulha fina enfiando na carne e a voz ecoando em meus ouvidos, “não vai doer nada  é só uma picadinha de formiga”.  Sei, me lembro bem. Se fosse contar quantas picadinhas de formiga levei na bunda,  com certeza teria passado parte da minha infância morando num formigueiro.
 
Finda a emoção, saí da clínica e entrei no carro muito lentamente, coisa nada comum no meu modo estabanado de ser, atitude essa  em deferência ao meu querido glúteo já dolorido. Comecei a pensar, por que nos braços não tive medo, nem senti dor? Tudo bem que algumas vacinas doem mais que as outras, no entanto o que sentimento foi de pânico.
 
Buscando memórias da infância e associando a alguns acontecimentos atuais, cheguei à seguinte conclusão, ou como dizem os psicanalistas, consegui elaborar. A injeção na bunda dói mais porque a gente não vê, parodiando e contradizendo o ditado “o que os olhos não vêem, a bunda sente”. Este é o cerne da questão: à espera do desconhecido, imaginamos algo monstruoso, demoníaco, insuportável.
 
Continuei elaborando. O choro que antecede a dor é na verdade a preparação para o sofrimento. Fazemos muito isso. Sofremos antes, durante depois da dor. Sofremos por antecipação. Será essa a origem de tanto sofrimento desnecessário? O medo de sofrer nos faz sofrer.
 
Voltando ao assunto, é por isso que injeção na bunda dói mais que no braço, porque quando a gente é criança tem medo de tudo,até de injeção.Quando a gente é grande não toma injeção na bunda e nossos medos são outros, de fantasmas, monstros, pessoas, nós mesmos...